Fresno - Eu Sou a Maré Viva (2014)
Nota: 6,2
Matheus Donay
“Você pode dizer que já ficou para trás / Pode até esquecer,
dizer que não importa mais / Mas teu passado se lembra / O teu
passado não esquece.”
A primeira estrofe da primeira música do EP sintetiza minha relação com
a Fresno atualmente. Não costumo dizer que tenho banda favorita, porque isso
muda com o tempo. Costumo dizer que tem a banda que eu mais escuto. E Fresno
foi, por pelo menos 3 anos a banda que eu mais ouvi. É difícil falar do novo
EP, e mais do que isso, inevitável não comparar com discos anteriores. Sempre
gostei da Fresno por causa do intimismo e identificação com as composições. Continuo
a gostar da banda, mas acabei dividindo o espaço dela com outras músicas de
outros artistas.
Traçando um paralelo entre o “Eu Sou a Maré Viva” e outros trabalhos,
começamos falando das letras. A banda
que sempre foi rotulada de emo pela carga emocional das músicas e pelos
desastres e desilusões amorosas deu lugar à frases de efeito, ora motivacionais
e inspiradoras. Suponho que Lucas Silveira, o compositor, agora namorando, deve
ter deixado o seu eu-lírico um pouco mais sossegado com as crises de
relacionamento.
A essência do EP gira em torno de se firmar em um mundo que se apresenta
muitas vezes como cruel. “O meu pensamento é à prova de balas / à prova de fogo
/ E isso ninguém vai tirar de mim” e “Quem é que
vai ouvir a minha oração? / E quantos vão morrer até o final dessa canção?
/ E quem vai prosseguir com a minha procissão / Sem nunca desistir ou
sucumbir a toda essa pressão?”. Exemplo de trechos que marcam o grande drama da
vida, tão explorado no disco.
Para os saudosistas, a canção ‘Eu Sou a Maré Viva’ tem
um pouco da cara da Fresno de alguns anos atrás. Para mim, é a mais bonita do disco que está
recheado de frases fortes. A parceria com Emicida e Lenine, ‘Manifesto’, ainda
que cause estranhamento quanto ao som típico da Fresno, me surpreendeu
positivamente. “Nem ser menos e nem ser
mais / Ser parte da natureza, certo? / Ao
caminhar na contramão disso / a gente caminha Pra
nossa própria destruição.”
E assim se fez o EP. Com sonoridades não tão comerciais
como antigamente, a banda segue independente. Mesmo que tenha se afastado das
sonoridades clássicas que marcaram época na Fresno, as novas músicas seguem
sendo entoadas pelo público fiel da banda. Ouça o disco. Se não gostar, tente
sair ao menos inspirado com os manifestos e legados espalhados nele ou com o projeto gráfico, que diga-se de passagem, ficou ótimo.
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