11 julho, 2015

Unknown Mortal Orchestra - Multi-Love (2015)

Nota: 7,4







Eduardo Kapp





Fico tentando entender como funciona uma mente humana que compõe as melodias mais pop em meio a tanto isolamento e solidão. Quero dizer, como é que quase 2 anos trancado numa garagem podem te fazer ter qualquer ideia musical que não soe como algo absurdo? Bom, não podem. As influências tavam lá, o contexto e a vontade também, mas aparentemente isso não foi o bastante pra tirar uma das características principais do Neo-Zelandês Ruban Nielson: O som exótico e estranho.

Na verdade, nos últimos lançamentos não foi muito diferente. Tem várias ideias pop que, caso produzidas de forma diferente poderiam ser, sei lá, um baita hit ou algo que o valha. Secret Xtians, Little Blue House, How Can U Luv Me e tantas outras. Felizmente ou não, Ruban prefere torcer essas ideias, destruir o caminho linear e acessível, encher de camadas e texturas, tocar uns solos doidos sem palheta, deixar tudo soando meio explosivo e raspy.

A temática dominante aqui é um bocado óbvia. O nome do disco e tudo... Enfim, as linhas celebram uma curta experiência de Poliamor que o Ruban e sua esposa tiveram com uma terceira pessoa. "Multi Love has got me on my knees, we were one, and then we got three". Embora não seja muito aparente, Ruban é pai de 2 filhos e é casado e tudo, então dá pra imaginar o quão doido e intenso deve ter sido essa experiência.

Não sei, tem toda essa inclinação pra algo mais groovy, funk-y e essa coisa toda. Gostei bastante dessa direção, mas por alguma razão, as músicas parecem não chegar a lugar nenhum. "Like Acid Rain" é explosiva, tem várias partes boas, mas parece algo completamente sem razão de existir. É o famigerado "tá, eaí?" que tu sente depois de ouvir. Dá pra sentir isso em quase todas as músicas, na verdade. Poucas se salvam.

Não dá pra deixar de dizer, no entanto, que a produção continua muito criativa. A qualquer instante, são várias camadas cuidadosamente organizadas. Extremamente exótico. "Can't Keep Checking My Phone" te leva pra outros mundos, definitivamente. Tem muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. De novo, isso parece ser a melhor e a pior coisa por aqui. Se nessa faixa esse é o ponto positivo, em outras como "Stage or Screen" parece meio.. overproduced (vide aquela quebra de continuidade sem noção ali pelo finalzinho da música). Entende?

Bom, mesmo tendo essas melodias confusas, felizes e tudo (algo como um álbum do Prince produzido pelo Wayne Coyne), as letras são muito intensas. Muito mais que os anteriores, aparentemente. O self-titled e o "II" soam mais como alguém divagando sobre sentimentos estranhos e distantes, enquanto no Multi-Love é muito mais concreto e direto. O próprio Ruban comentou em várias entrevistas que essa relação toda foi praticamente a coisa mais marcante de toda sua vida.

E eu gosto bastante dessas coisas estranhas e experimentais. O problema é que o Ruban não soube tornar essas experimentações lá tão interessantes como tinha conseguido anteriormente. No duro, as melhores partes da coisa toda são onde, aparentemente, ninguém tá tentando soar como nada e só tá deixando acontecer: leia-se "Necessary Evil" (com a parte dos metais sendo tocada pelo próprio pai do Ruban) e principalmente "Puzzles". "Puzzles" é definitivamente o ponto alto do disco. Parece algo com vida própria, que nem deveria fazer parte desse disco. E claro: os teclados tipo-supertramp da faixa título, que é genial por si só.

Onde ouvir: https://www.youtube.com/watch?v=ByYvTra8zWw&list=PLAnADJJTXDSq45D-a4pv_65CwIEErpXsf (só parte das músicas estão no youtube :/ )

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