26 maio, 2015

Cícero - A Praia (2015)



Nota: 7,5






Fernanda Rodrigues





Depois de quase dois anos sem apresentar nada novo (quase o mesmo tempo entre o primeiro e o segundo álbum), Cícero finalmente volta, agora com o lançamento de A Praia. Um disco que, sinceramente, parece aquele irmão mais novo que quer imitar algumas coisas que o irmão mais velho fez e deu certo, bebendo às vezes da mesma fonte que o irmão do meio. Não que isso seja necessariamente algo ruim ou bom, é apenas um fato.

Para começar, a primeira faixa do álbum já é a continuação da última do segundo, Sábado, como o próprio nome “Frevo Por Acaso nº 2” já diz – realmente, se você for ouvir os dois discos um atrás do outro, parece que a mesma música voltou a tocar. Da mesma forma, “Cecília & a Máquina” retoma a personagem de “Cecília e os Balões”, só que agora incrementada com a voz de Luiza Mayall, mas sempre representando a pausa do álbum para um momento mais calmo e delicado. Não sei dizer exatamente o que Cícero pretendeu com esse último lançamento, mas na certa ele quis (re)elaborar o sucesso de Canções de Apartamento, apenas de um jeito um pouco menos nostálgico e melancólico.

É como se, antes do seu primeiro disco, Ciço tivesse levado um fora, se revoltado, chorado, sofrido, sentido saudade, achado que nunca mais ia superar aquele caso de amor que acabou, mas, de repente, assim do nada, encontrou alguém que tem tudo a ver com ele. Se antes, lá no início, com “Açúcar ou Adoçante?”, ele estava mais para “Entra pra ver/ Como você deixou o lugar/ E o tempo que levou pra arrumar aquela gaveta”, em “Terminal Alvorada”, tem um tempo que ele já não sabe o que é saudade. É como se ele tivesse se apaixonado e encontrado a pessoa certa, porque, embora as bases entre as músicas dos álbuns estejam parecidas, os versos estão mais felizes e amorosos, menos saudosistas e ressentidos. Novamente, é o cantor nos deixando saber um pouco da história da sua vida.

E por falar nisso, é bom lembrar que Cícero deixou sua carreira de advogado para tentar a sorte na música e parece que é isso que ele lembra logo de cara nos primeiros versos de “Frevo Por Acaso nº 2”: “Papeis, documentos/ Velhas formas de comportamento/ Na rotina de sol e cimento, amanhecemos”. No mesmo caminho, a gente percebe também o mesmo estilo de referência em “Soneto de Santa Cruz”, que carrega no título o nome do bairro em que o cantor cresceu. Cícero continua, claramente, apostando no que deu certo no seu primeiro álbum: compartilhar com os fãs sua rotina, sua vida, sua biografia.

Tudo bem, vocês podem estar pensando “tá mas o segundo álbum? E Sábado? Ele não se inspirou em nada?”. Olha, foi até bom que as influências do segundo disco não tenham ido fortes nesse terceiro, porque Sábado foi meio decepcionante para quem já conhecia o cantor do primeiro álbum. Ficou um som experimental demais, meio fraco, que foi forte alvo de críticas pela maior parte das pessoas que o vinham acompanhando. Claro que nós não sabemos se a intenção de Cícero não foi justamente fazer um álbum mais experimental, mas, ao que parece, se o objetivo realmente era esse, ele não alegrou muito a torcida.

Por isso que a gente vê muito mais de Canções de Apartamento em A Praia. As melhores músicas do álbum são aquelas que lembram as do primeiro disco, como “De Passagem” e “Camomila”, que apresentam os mesmo versos repetitivos empregados já em “Ponto Cego” anteriormente. O sentido da música continua prático, direto e objetivo, sem forçar muito o ouvinte a parar para pensar “bah, mas o que ele quis dizer aqui?”. E isso não é ruim. Muito pelo contrário, às vezes o que a gente mais quer é um álbum que seja direto e diga o que a gente quer ouvir mesmo, de uma maneira fácil e descontraída.


Em outras palavras, e já para finalizar, Cícero continua o mesmo (talvez até mais do que o necessário), mas isso significa também que a qualidade das músicas continua boa. Alegrou quem queria a volta daquela promessa do MPB que apareceu em 2011, ainda meio tímida, nos convidando para entrar em seu apartamento (dá uma olhadinha na review do primeiro álbum -> aqui), mas que agora já nos leva para um passeio na praia, mais feliz, menos triste com o coração, como se um verãozinho tivesse chegado para aquecer seus sentimentos. O bom e velho Ciço came back.


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