16 julho, 2015

Tame Impala - Currents (2015)

Nota: 6,5







Eduardo Kapp





Meu indicativo de popularidade absurda de uma banda é quando o som deles chega, de alguma forma, aos ouvidos da minha mãe (eu sei que tu não tem tempo de ouvir mais músicas e tudo, não se ofenda ok mãe). Pois então. Ela, assim como vocês, conhece e aprecia o hit-single-psych-pop-bliss "Feels Like We Only Go Backwards". Essa música, parte do também enorme e absurdamente bom "Lonerism" levou o Tame Impala aos headlines de vários festivais importantes. Literalmente, eles passaram os últimos 3 anos em tour contínua, sempre nos maiores e melhores lugares.

No início underground, fizeram o nome com seu som meio garage-stoner-psych rock ("Tame Impala EP"), evoluindo pra algo mais atmosférico e espacial no primeiro full-lenght "Innerspeaker". Até aí, era um "revival-moderno" que tinha um público alvo mais limitado e tudo. Se o Kevin continuasse só com isso, já teria um lugar garantido tanto na crítica quanto nos circuitos de shows.

Só que: ele seguiu mudando. Em 2012 é lançado o segundo LP, "Lonerism". Genial, popular, inovador. Realmente colocou o Tame Impala no topo. Gerou uma porção de bandas nessa mesma direção, rendeu um pesadelo pra vários grupos que "soam como Tame Impala". Bom, desde 2012 Kevin foi lentamente alterando seu estilo, fazendo algumas jams mais eletrônicas e menos trabalhos centrados na guitarra.

Aí que começa essa aproximação cada vez mais pop. Na verdade, o próprio Lonerism, embora não "pareça", é supostamente inspirado em coisas como.. Britney Spears. Entre isso e aquilo, Kevin postou uma porção de covers (desde Michael Jackson até OutKast) e rolou um EP com o Flaming Lips, um tocando as músicas do outro.

As entrevistas só repetiam isso: "Kevin diz estar ouvindo mais pop" "Kevin não consegue mais controlar a vontade de fazer pop" etc etc. Pra coroar, veio a participação no "Uptown Special", do Mark Ronson. E pra deixar bem claro: nada disso foi ruim. Muito pelo contrário. Fui ficando cada vez mais fascinado pela ideia de um futuro disco super-edgy-pop-psicodélico. Quem sabe íamos nos deparar com o próximo Pet Sounds? Foi por essa época que o "Currents" finalmente teve uma data mais ou menos prevista pra lançamento. O hype já tava crescendo exponencialmente.

"Let It Happen": a odisseia pulsante entre loops e viradas de knob, sintetizadores gigantescos, analógicos, a pista que todos os fãs precisavam pra colocar ainda mais fé nesse disco. O mesmo vale pras outras faixas que foram lançadas pela mesma época. "Eventually", "Disciples" e "'Cause I'm A Man". Todas apontavam pra uma mesma direção: disco, groovy-funk, pop (e quiçá umas gotas de vaporwave). No início fiquei meio assim, não parecia ser ~tudo isso~, meio abaixo do potencial esperado e tal. De qualquer forma, "Eventually" e "Let It Happen" acabaram melhorando muito depois de alguns dias, são definitivamente algumas das melhores músicas feitas por Parker até então.

Quando finalmente consegui ouvir o disco, fiquei todo errado. "Nangs", que tinha aparecido como trilha pra um vídeo-prévia do disco tava lá como música. Qual é. 1 minuto e 48 segundos da música que praticamente todo mundo ficou querendo mais. Depois passar os primeiros 30 segundos achando que eu tinha colocado "Everyone Wants To Rule The World" do Tears for Fears pra tocar, quando na verdade era a faixa 3 "The Moment". Não foi algo exatamente agradável.

Mas fora isso, a primeira metade do disco é quase impecável. "Yes I'm Changing" diz muito sobre as intenções do Kevin no disco, que praticamente tenta mudar a visão sobre álbuns "de rock". Como ele disse, tenta convencer prog-70s-heads que dá pra unir o som deles com alguns synths dos anos 80. A produção tá muito melhor. No duro, a confusão sonora de algumas coisas dos discos anteriores não passa nem perto. O perfeccionismo nas layers chegou a níveis inimagináveis. Tá tudo no lugar, certinho, cuidadosamente pensado. A temática toda das letras é meio break-up songs. Deve ter algo a ver com o fim do relacionamento com a Melody Prochet (da Melody's Echo Chamber). Mas isso de uma forma bem 80's, não tão "abstrata" e aérea quanto nos discos anteriores. "[..] and gazing out the window, as I ascend into the sky" em 2010 agora é "[..]she was holding hands with Trevor, not the greatest feeling ever" (ok eu sei que foi uma comparação meio nonsense mas deu pra sacar o ponto)

O problema, no entanto, não é a mudança do estilo, mas o disco como um conjunto. Enquanto tem essas baladas-espaciais-melancólicas geniais, ou esses sons mais pulsantes e explosivos, tem umas músicas completamente desnecessárias só pra tomar espaço. Os vocais em algumas músicas parecem vazios e sem muita vontade. Parece que, em algum ponto da história toda, o Kevin se transformou numa mera máquina de fazer músicas. Acho que ele vê seu "Eu" produtor separado do Eu artista. Bizarro.

Tem essa "Past Life", com uma voz grave e modificada, mais te deixando desconfortável e confuso do que "intrigado". Aí no single "'Cause I'm A Man" é a mesma coisa óbvia e previsível a música toda. Depois daí, sinceramente, eu só consigo lembrar daquela linha "does it really fucking matter?" em "Love/Paranoia" (que mesmo assim só falta alguém chegar e falar "d-d-drop the bass" pra completar a brincadeira). As outras, nem fazem falta ou te deixam afim de ouvir de novo.

Ou seja, tem essas músicas geniais, o Kevin tá tomando riscos, não tá na zona de conforto, é a melhor direção que se pode tomar artisticamente: seguir se desafiando e tudo. Isso nos mostra que o Tame Impala é ainda maior, se reinventando e explorando. Mas aparentemente ele não conseguiu tornar isso agradável no todo, acabando com uma coisa meio repetitiva, fraca e previsível. Vale muito até a metade (com ressalvas), depois é uma combinação de tristeza e tédio.

Onde ouvir: https://www.youtube.com/watch?v=gq_qFBJkOI4

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