Nota: 7,9
Fernanda Rodrigues
Sempre que eu vou ouvir alguma música de Florence + The Machine eu me lembro da apresentação que eles fizeram no Rock in Rio 2013 e
de como eu fiquei muito irritada por ela não cantar e ficar correndo de um lado
pro outro no palco, como se estivesse recebendo alguma entidade (embora,
convenhamos, Lorde ainda faça isso nas suas apresentações melhor do que
Florence. Mas enfim, se você quiser dar uma olhada, aqui tem um vídeo em que ela até canta, mas aposta uma corridinha consigo mesma pra lá e pra cá no
palco, como se a emoção demasiada que estivesse sentindo naquele momento fosse
a real culpada de ela precisar extravasar em alguns passos). Em suma, onde eu
quero chegar é nisso: Florence Welch sempre quer colocar alma, espírito,
sentimentos, loucura, confusão – sei lá quais outros adjetivos usar, mas é no
sentido de querer desestruturar aqueles que, porventura, venham a ter a ousadia
de ouvir seus álbuns.
Depois de um jejum de quatro aninhos
sem novas produções, a gente já consegue ver a novidade logo na primeira faixa,
“Ship To Wreck”. Ao contrário da maioria das faixas da banda (principalmente as
escolhidas para abertura dos outros dois álbuns, vide “Only It For A Night” e
“Dog Days Are Over”), “Ship To Wreck” já começa a todo o vapor, não evoluindo
aos poucos como era de costume (até mesmo “Drumming Song”, em Lungs, que é uma das mais agitadas da
banda, não começou tão agitada quanto).
Por outro lado, se formos falar em semelhanças,
elas também existem e mesmo assim não prejudicaram o álbum. Como era de se
esperar, a marca principal continua sendo os agudos de Florence – a sua voz
parece ter sido feita pra interpretar as músicas de How Big, How Blue, How Beautiful. Ela consegue transformar tanto
tragédia quanto romance nas coisas mais lindas do mundo. É só olhar pra
“Various Saints and Storms”: a letra toda é meio depressiva e destinada pra
quem tá bem triste™ (“I know you’re bleeding, but you’ll be ok// Hold on to
your heart, you’ll keep it safe// Hold on to your heart, don’t give it away”),
mas ainda assim, na voz de Florence, a tristeza parece uma coisa tão sublime de
se sentir que dá até vontade de ter uma autopiedade pelos quatro minutos e
pouquinho da música.
A faixa que deu nome ao álbum, por sua
vez, tem algo que lembra o som de “Cosmic Love”, lá de Lungs (novamente), com uma entonação meio
divina-barra-espiritual-barra-transcendente. A religião vem agora na forma de
“Delilah” (a Dalila de Dalila e Sansão mesmo) e “St. Jude”, como até Deus já
apareceu em “You’ve Got The Love” em outro momento. Aliás, “St. Jude” é a
música com o instrumental menos produzido, mais simplesinha, como se fosse uma oração
humilde à santa das causas perdidas para Florence conseguir deixar um amor pra
trás, ainda que ela esteja se lamentando.
Todas as músicas, no geral, não fogem
muito desse tom intimista e confessional, para falar a verdade, como se estivéssemos lendo o diário
de alguém (um alguém muito depressivo, diga-se de passagem, mas que vem
tentando melhorar). HB HB HB é mais
um álbum que reflete o mundo conturbado e caótico que é o interior da cabeça de
Florence, sendo muito bem sustentado pelo instrumental da banda (destaque para as
guitarras em “What Kind Of Men” que fizeram da música uma das mais intensas)
que consegue acompanhar o ritmo da vocalista, o qual, convenhamos, não é nada
estável. Florence também não se importou em deixar a indireta de que o "Man" da faixa dois
provavelmente é seu namorado James Nebitt, com quem a relação sempre foi de
vai-e-vem, ou de falar sobre como as pílulas (citadas tanto na música de
abertura quanto em “Delilah”) e a bebida foram (talvez ainda sejam) suas
companheiras na hora que ela sente seu mundo desabar sobre seus sonhos. E isso deixa bem claro que esse último álbum tem um pé mais bem fixado na realidade do que seus antecessores. Lungs e Ceremonials eram mais etéreos e sombrios, acima do mundo material.
O sofrimento de Florence (apesar de ser aparentemente maior do que o de qualquer outra pessoa) aparece agora de uma forma mais real, com um uso mais "convencional" da guitarra, não constantemente atrás de atingir um ápice mítico, como nos outros álbuns. Pra concluir: Florence + The Machine desbloqueou, através de How Big, How Blue, How Beautiful, o nível 3 da carreira (geralmente o momento de queda de muita bandas) e passou para a próxima etapa.
May the odds be ever in their favor.
Onde ouvir: http://tracklist.com.br/ouca-na-integra-how-big-how-blue-how-beautiful-novo-album-do-florence-the-machine/29971
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