07 fevereiro, 2015

Cuscobayo - Na Cancha (2014)








Matheus Donay





Um alento.

Não no sentido barato, como consta nos dicionários. No sentido de arquibancada mesmo, de escadarias de concreto que cercam as 4 linhas dos campos de futebol. Bandeiras, trompetes, trapos, cântigos, ao melhor espírito "se mira y no se toca". Esse EP da Cuscobayo é essencialmente isso, a começar pelo nome: Na Cancha.

Ok, parece que o texto começou pela conclusão, mas deixemos isso pra lá. Ouvi esses caras a primeira vez despretenciosamente, me interessei pelo nome da banda. Foram nos 10 primeiros segundos de audição da primeira faixa que pensei: vou ter que ouvir esse álbum até o fim. Esses primeiros segundos começam como uma espécie de Fade-in de murgas, aquele instrumento que é um prato acoplado num bumbo, alma das bandas barra-bravas. 

As barra-bravas são muito populares por estas veias abertas da América Latina, mas peculiarmente o Brasil não é muito adepto. O Rio Grande do Sul, em contraponto, acabou adotando essa cultura (a proximidade com os países platinos é crucial nesse processo). Nesse contexto, a Cuscobayo mistura influências dentre os inúmeros ritmos latinos, seja com um pouco de cúmbia ou uma pitada de música andina, milonga, vanera e o escambau dos sons desse continente. Sobra até pra letra de música ser cantada em espanhol, como em Vaguear Perdido.

Os caras abraçaram tanto a ideia de fazer essa liga de cultura latina e futebol, que além das músicas e nome do EP, no financimento coletivo do próximo álbum foram vendidas cervejas e camisas de futebol com estampa da banda, com cuias de brindes. Sem falar na capa: uns guri jogando bola, com direito a um cusco junto.

Minha empolgação foi tanta com esse lance de alento que quase esqueço de comentar sobre a música em si. Bom, a base de todas canções é violão. Geralmente um violãozinho campeiro marcado pra dar ritmo junto com o cajón ou a percussão. O EP não tem bateria, é puramente batucada. Algo que me chamou a atenção foram as diversas vezes em que se ouviu mais de uma linha de vocal, dando uma ideia de coro. Aí, eu já não sei mais se foi intenção dos caras de metáfora com torcida ou eu que me empolguei deveras nesse lance de fútbol. Por último e muuuuy importante para o que se prentedia, saliento os trompetes. Simplesmente é a peça que faltava no quebra-cabeça que era a ideia do conjunto da obra.

Na Cancha não é um EP que te deixe horas e horas ouvindo in repeat. Mas sob toda essa atmosfera criada, é um álbum pra se deixar tocar e ouvir com os amigos no churrasco daquela noite de quarta que precede algum jogo da Libertadores.




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