09 agosto, 2015

Júpiter Maçã @Theatro Treze de Maio

Foto: Ana Bittencourt / Rádio On The Rocks
Na última semana matutava quase que diariamente com alguns amigos sobre qual Júpiter veríamos na nossa frente neste show. Seria aquele pulsante e elétrico ou aquele com as pilhas fracas e mórbido? Dentre as várias facetas que já conhecíamos, o fato é que a espera pra ver ele foi muito grande. 

As cortinas se abriram e Júpiter tocava durante o show uma verdadeira salada mista no que tange as épocas de sua carreia. O novo, o já nem tão recente, o velho e o velho remodelado. Quando falo em novo me refiro à promessa de novo álbum que já se especula e que tudo leva a crer que terá uma roupagem mais folk. Se tiver curiosidade, procure por 'Constantine Empire', que leva a melodia de uma música sua que nunca foi gravada oficialmente: Doenças de Alma. 

Modern Kid, Um lugar do caralho, As tortas e as cucas, Beatle George...Todas presentes no set. Quanto à escolha do repertório não há muito o que se questionar, talvez pudesse se reivindicar algo como a Marchinha Psicótica ou Miss Lexotan, que ficaram de fora.

Mas o grande ponto da noite - infelizmente - não foram os clássicos da renomada carreira de Flávio Basso. Foi quando eu e meus amigos descobrimos qual Júpiter faria a apresentação que pairou sobre o teatro uma energia de desconfiança e lamento. Visivelmente debilitado pelo álcool, o cara via na sua frente (quando não virava de costas pro público) espectadores que com certeza tinham enorme carinho, respeito e admiração por tudo o que a sua carreira já havia proporcionado.

Foto: Atílio Alencar


"Quem compra ticket para Jupiter Apple, compra ticket para um filme de terror!" Frase expressa pelo próprio.

Por vezes o show se tranformava em comédia stand-up, momentos em que ele assumia o microfone para tornar público seus contos eróticos e coisas pornográficas non-sense. Longe de qualquer moralismo, mas o uso de palavrões fora de contexto foi demasiado e não faltaram expressões e discursos que imprimissem opressão às mulheres. Júpiter Maçã mais parecia uma criança cheia de hormônios e mal educada. Apesar de tudo, recebia aplausos meio constrangidos e risadas que justificam o "rir pra não chorar".

O show, que pontualmente começou às 20 horas, teve um repertório de 13 músicas e duração de 1h e 30min. A justificativa pra um show tão demorado pro número de músicas em questão se dá pela imprevisibilidade do Júpiter, que fazia com que uma música de 4 minutos durasse 8. Errava os tempos de começar a cantar, esquecia letras, não tinha noção de espaço apesar do palco grande e até mesmo o cabo da sua guitarra era uma armadilha, já que se enrolava a todo momento. A banda, que não deixava a peteca cair, chegava a ficar minutos tocando à espera de que Flávio Basso resolvesse cantar, o que - convenhamos - cansa.

Por tudo que aconteceu, não há como não deixar uma menção honrosa à banda que acompanhava o músico e aos dois roadies. Era um show que não dava brecha pra distração. Os olhos de todos eram voltados para o man, que dava muito trabalho, chegando a sumir do palco por vários minutos. Aí, triste/brilhantemente o sintetizador assume a voz que nos deixou órfão naquele tempo de espera pra cantar artificialmente as sílabas de Essência Interior. Ainda acho que o ambiente contribuía pra frustração. Pois ora, se tem duas coisas que repudio assiduamente assistir sentado, elas são: jogo de futebol e show de rock. O teatro não é o habitat natural do Júpiter Maçã.

Depois do show, conversando sobre as impressões, é unânime o sentimento amargo. Obviamente, é um momento nobre e raro ver ao vivo canções tão clássicas como as que eram apresentadas, mas aquela coceira na cabeça, a pulga atrás da orelha, essa não tinha como evitar. 

Lembro-me de ter ficado meio triste no início do ano, quando anunciaram que Júpiter estava se despedindo dos palcos com dois shows acústicos em Porto Alegre, dos quais não poderia ir. Depois da apresentação de ontem, fico pensando se não teria sido melhor para o próprio Júpiter ter tirado um tempo pra si ficando longe dos palcos. A obra dele está lá registrada, intocável, ninguém apaga a história muito menos desconstrói o que significa o Júpiter e sua importância na música gaúcha/brasileira. Só que o que foi visto foi melancólico, jamais havia sentido algo ruim ao sair de um show. 

É como entrar num carro com o motorista embriagado e torcer pra que não ocorra nenhuma fatalidade no percurso e chegue em casa bem. Aonde foi parar aquele menino que queria cantar como o beatle George? Júpiter precisa de ajuda, pra ontem - literalmente.

Matheus Donay 

Nenhum comentário:

Postar um comentário