Michel Peixoto
But that's life, so social..
O American
Football com certeza é uma das bandas mais influentes do emo (e com menor vida
também), mas pra falar disso, é necessário voltar um pouco no tempo. Pra começo
de história, Mike Kinsella, vocalista e guitarrista da banda, é uma das mais
importantes figuras da chamada "segunda geração" do emo. No fim da
década de oitenta, ele e seu irmão Tim Kinsella, influenciados por bandas como
Rites Of Spring, Embrace e algumas características de outros estilos musicais como
o jazz, formaram o Cap'n Jazz. A banda gravou alguns singles, um ep e um álbum
antes de seu fim e depois cada integrante criou seu próprio projeto, sendo o de
Mike Kinsella o American Football. O Cap'n Jazz, por ter dado vida a muitas
outras bandas e a tantas diferenças sonoras que passaram a existir dentro da
cena, tem um papel tão importante quanto ao que caras como Ian MacKaye e Guy
Picciotto tiveram no começo de tudo.
Relacionamentos
frustrados, incertezas, despedidas e reflexões em atitudes pessoais são o prato
principal das letras do disco. Verdade seja dita, Mike Kinsella é um contador
de histórias, isso é notável tanto no seu trabalho com o American Football
quanto no seu projeto solo, o Owen, onde suas letras aparecem sempre com muitas
histórias/experiências pessoais e citações de seus autores e obras literárias
favoritas.
O álbum
começa já com a polirrítimica "Never Meant", que além de ser a música
mais marcante da banda, é um ótimo jeito de começar, pois é capaz de mostrar o
que vamos encontrar durante o resto do álbum: dinâmicas, afinações nada
convencionais, o timbre de voz agudo que o Mike Kinsella tinha na época com
seus vinte e dois anos e todas as ambientações/atmosferas e situações que esse
álbum é capaz de te colocar.
"I'm
thinking about...leaving" é o primeiro verso de "The Summer
Ends", uma das músicas mais tristes deste álbum, onde desde a primeira
nota da guitarra até o último verso te ambientam em um cenário de despedida. Ao
ouvir essa música pela primeira vez, achei os versos bem bobos e simples. Só se
tornou impactante de verdade depois de escutar mais algumas vezes e ver que
cada elemento presente (as guitarras que ficam indo e vindo em algumas partes,
os versos e até mesmo o trompete da introdução) de alguma maneira me ambienta
na situação da música.
"Honestly"
é uma das minhas favoritas do disco e já entra com um riff marcante que se
estende durante a primeira parte da música. Na segunda parte, a banda faz uma
progressão instrumental em cima de uma variação do acorde aberto da afinação e
ao longo dela, mais guitarras vão aparecendo e se somando a bateria que vai
acompanhando e fazendo algumas mudanças até o final onde aos poucos todos os
instrumentos vão se despedindo em um fade out.
Depois vem
"For Sure", que logo de cara, tem um trompete que se junta ao baixo e
faz com que a música navegue dentro da sua tonalidade enquanto a guitarra faz
algumas variações do riff principal até o final. É uma das mais curtas e
diretas do disco. "You Know I Should Be Leaving Soon" pra mim sempre
vai ser uma música estranha, interessante, e ao mesmo tempo de transição. Por
algum motivo que eu nunca vou entender, essa música me deixa um pouco
apreensivo, com dúvida sobre alguma coisa que esteja acontecendo ou que vai
acontecer. A bateria com a levada jazz é o ponto forte da música, que muda um
pouco dali e quebra um pouco de acolá. Se fosse pra dividir este disco em duas
partes, seria depois dessa música, é a partir do final dela que as coisas se
agitam um pouco.
"But
The Regrets Are Killing Me" é um pouco diferente das demais do disco por
não ter partes com tanta progressão e uma maior variedade dentro de sua
estrutura devido ao seu instrumental mudar constantemente. Um exemplo disso são
as guitarras que mudam pelo menos três vezes na música, sempre trazendo uma
nova linha/passagem ou riff. Assim como "For Sure", também é uma
música direta, mas com um instrumental muito mais técnico. Fazendo uma
comparação, essa música me remete muito ao som que o This Town Needs Guns(ou
TTNG, como quiserem) faria um bom tempo depois.
O que mais
me chama atenção em "I'll See You When We're Not Both So Emotional" é
a presença maior do baixo na mix (o que não tinha acontecido até então) e este
fazendo junto da bateria um groove até mesmo dançante (depois deste turbilhão
de frustração, solidão e despedidas, ainda da pra dançar?). Outro ponto
interessante é a bateria, onde a influência jazz é ainda mais nítida e traz
quiçá as levadas mais complicadas do disco inteiro.
Música mais
longa do disco, "Stay Home" traz no título um ótimo conselho, não? A entrada das guitarras, preenchendo os espaços deixados por uma
ou por outra, a "abertura" da bateria, onde no começo é possível
somente ouvir um som seco e oco na mix que depois vai se tornando mais claro junto
com o baixo. Aliado a tudo isso, aparecem versos curtos, mas que são
suficientes pra te fazer refletir bastante sobre o que o título diz.
Acho que "The
One With The Wurlitzer" é um final justo para o disco, já que nela aparecem
todas as características apresentadas anteriormente em outras faixas. A música
começa com um fade in trazendo primeiramente o wurlitzer em um tema principal e
depois a presença da bateria, baixo, guitarras e um trompete na mix. À medida
que a música anda, o wurlitzer segue seu tema, as guitarras se juntam aos
poucos e a bateria leva tudo isso com o baixo, criando um clima de despedida e
faz parecer que tem alguém te dizendo um “tchau, até breve” com um sorriso no
rosto.
Onde
escutar: https://www.youtube.com/watch?v=MqRNSwXQUwA aqui tem o
re-lançamento do álbum em versão deluxe que a polyvinyl records fez ano passado
que além das músicas originais, essa versão traz gravações velhas de ensaios da
banda e uma música inédita, "The 7's".
Caso alguém
ficou em curioso/curiosa sobre as outras bandas que surgiram após o fim do
Cap'n Jazz, deixo aqui algumas recomendações.
Joan Of
Arc: https://www.youtube.com/watch?v=nmpC0zkCs7w
The Promise
Ring: https://www.youtube.com/watch?v=rx5xIZB5T_M
Ghosts And
Vodka: https://www.youtube.com/watch?v=A9SmQGGBhGc
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