28 outubro, 2014

The Flaming Lips - With A Little Help From My Fwends (2014)

Nota: 4,3







Eduardo Kapp




Assim como Yo La Tengo, Swans e alguns outros atos, os Flaming Lips só tiveram o nome como constante em sua trajetória. Desde a fase inicial trash-punk, a aproximação com o 90's-indie-rock e consequente micro-temporada dentro do mainstream (discos como "Yoshimi Battles The Pink Robots", "Transmissions from the Sattelite Heart" definitivamente deixaram alguns hits). E, bom, depois que desceram do temporário topo, a banda adentrou todo tipo de cena e estilo underground, se inovando e mudando o tempo inteiro.

Basicamente deixaram de ser a bandinha indie rock pra ser um ato que combinava o noise-pop com um espírito completamente experimental, rejeitando toda referência normal do que compreendemos por: música. Na verdade, é difícil achar qualquer lógica sonora nos discos mais recentes. Aumentaram ainda mais os limites da experimentação, algo completamente estranho e novo. Os brilhantes "The Terror" (do ano passado) e "Embryonic" (2009).

Ainda nesse assunto, é importante entender que a banda não exatamente mudou em conjunto. Na verdade, é um bocado seguro dizer que muito dessas loucuras é tudo produto da mente doida do Mr. Wayne Coyne, mastermind da coisa toda. Ou seja, deu pra notar de onde vinha vontade e motivação pra alguns lançamentos bastante ambiciosos e idiossincráticos. O cara forçava muito a barra. Quem lembra do cover inteiro que eles fizeram do Dark Side (com os Star Death and White Dwarfs)? Ou dos lançamentos limitados fazendo parcerias completamente aleatórias (Kesha, Nick Cave..)? 

E agora, ainda mais aleatórios e bizarros, os Flaming Lips resolveram revisitar e interpretar o notório Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, lendário disco do verão de '67. Se isso não é estranho por si só, imaginem com as inúmeras parcerias que aparecem por aqui, indo desde nomes do pop atual (Miley Cyrus (!!!!!!!!!!!), Tegan and Sara), seus clássicos relacionados (StarDeath White Dwarfs) e alguns nomes conhecidos do psych-folk/pop atual (Foxygen, My Morning Jacket, Phantogram). O disco é pra ser um ato em benefício da "The Bella Foundation" uma organização em Oklahoma que fornece tratamento veterinários para animais de pessoas de baixa renda.

Se você por acaso espera ouvir algo parecido com o original, este disco não é pra você. Se você por acaso espera ouvir algo "normal" e "acessível", este disco não é pra você. Se você por acaso espera ouvir algo que tenha uma lógica e faça sentido no conceito de "álbum", não.

Aqui nesse record,  a coisa já abre de um jeito totalmente bizarro. Como cada convidado gravou as faixas em tempo e lugares diferentes e os Lips não necessariamente participam de todas as faixas (na verdade eles só aparecem em algumas), a inconsistência e a variedade são gritantes. "With A Little Help From My Friends", por exemplo, que originalmente tinha toda uma motivação ambiental, de se imaginar numa espécie de coisa teatral acontecendo, aqui parece uma ópera rock espacial competindo consigo mesma pra ficar cada vez mais estranha.

Basicamente, o estilo dos convidados fez bastante diferença onde estes participaram (não é tão óbvio assim ok), com alguns transformando as músicas em peças folk e outros em odisséias eletrônicas. Não dá pra saber até que ponto eles estão simplesmente dissecando as músicas e brincando com sua essência como bem entenderem ou tentando interpretar da "melhor forma" possível.

Algumas faixas, no entanto, conseguiram o que aparentemente almejavam: mudar completamente a percepção da faixa original de uma maneira boa. "Getting Better (com Dr Dog, Morgan Delt e Chuck Inglish)", "Within You Without You (com Birdflower e Morgan Delt) e a reprise da faixa título, que aqui está praticamente duas vezes maior e contando com efeitos diretamente do épico Pink Floydiano "A Saucerful Of Secrets", transformada pelo Foxygen e Ben Goldwasser (do MGMT).

E como é impossível deixar de comentar a presença de Miley Cyrus (que eu achei hilária, deixou seus fãs super confusxs e com raiva), essa que esperava-se ser a pior participação, está na verdade entre as mais interessantes. Ela não ficou tentando ver quem conseguia distorcer mais as músicas e fez um ~ótimo trabalho~. Além disso, a ela é quem foram confiadas duas das mais importantes faixas: "Lucy In The Sky With Diamonds" e "A Day In The Life" (que infelizmente ou não, não conta com a tenebrosa nota final de piano). Demorei um pouco pra assimilar essas duas, mas acabei gostando. O refrão de L.S.D. (essa polêmica nunca vai morrer) está sem a característica percussão, mas compensa com suas pulsantes ondas, celebrando bastante peso instrumental, aparentemente vibrando tudo ao mesmo tempo.

Enfim, este é um disco bem estranho e bizarro, de um jeito quase ridículo. É forçado em vários pontos, ambicioso como uma criança construindo uma cidade numa caixa de areia e confuso como um calouro de engenharia. Só se salva porque algumas faixas, individualmente, ficaram bem interessantes. Mas pela ideia de álbum... é melhor ouvir o original e doar diretamente pra organização aquela.



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