31 maio, 2014
Ariel Pink's Haunted Graffiti - Before Today (2010)
Nota: 9,6
Eduardo Kapp
Ariel Pink, até 2008-2009 (quando criou a "Haunted Graffiti"), lançava centenas de músicas de forma independente, por meio de cassetes, gravando em casa. Essas gravações caseiras lo-fi faziam as músicas aparentarem terem sido gravadas décadas antes, por conta da qualidade de som.
Misturando muitos gêneros e influências, é difícil descrever o som desse cara. Alguns dizem que é um new wave meio grotesco, outros que toda a carreira dele é como uma re-imaginação de uma rádio AM anos 70 de música pop. Aparecem elementos de pop psicodélico, new wave, lo-fi e até punk.
Inicialmente reconhecido por ser o primeiro artista a assinar com a gravadora independente dos Animal Collective (Paw Tracks), teve uma fase um tanto "inacessível", experimentando bastante e mantendo a coisa toda com as gravações de baixa qualidade. Não era ruim, tinha bons momentos e tudo, só não era fácil de se ouvir pra quem não conhecia.
Em 2009, assina com a 4AD Records, e finalmente dá as suas músicas a merecida produção de alta qualidade. E assim, em 2010, lança o "Before Today", que traz as melhores características adquiridas na fase lo-fi, e é muito mais acessível que os trabalhos anteriores.
E é isso que fez esse álbum ser absurdamente bacana. As músicas são únicas e imprevisíveis. As estruturas das músicas são diferentes entre si, mas tem uma coerência interna inexplicável. Desde a hit "Round and Round" até a mais estranha "Menopause Man", tudo está impecável. É o tipo de material que não tem como dizer quais são as músicas boas e as ruins.
Synths atmosféricos ("Fright Night (Nevermore)"), ótimas linhas de baixo ("Reminiscences", "Beverly Kills", etc...), efeitos bizarros e camadas cuidadosamente montadas. A doce e reinventada "Can't hear my eyes" traz sons vindos dessa mesma rádio AM anos 70. "L'estat (Acc. To The Widow's Maid)", que começa com um synth, guitarras, e perto do fim, se mostra uma explosão de efeitos e percussão. As letras são todas notáveis, combinando as vezes nonsense puro e em outros momentos algo mais sentimental e sincero.
Vocais como os de "Bright Blue Skies", "Round and Round" e "Beverly Kills" são todos excepcionais e muito criativos. Combinando muitos tons diferentes e quebras de estrutura, desde simples linhas faladas até falsetes que parecem uma mistura de Michael Jackson com um funk underground anos 80.
O único sentido em que vejo alguma possível "falha" ou "defeito" nesse disco, é que não tem nenhuma grande ~inovação~ se comparado aos seus antecessores. Fora o fato de que algumas músicas são "re-edições" de versões que aparecem em álbuns anteriores. Mesmo assim é um album que dá muita vontade de ouvir de novo e de novo. Pop na medida certa, inteligente e criativo, é um must-have.
Onde ouvir: http://grooveshark.com/#!/album/Before+Today/4259506
Vanguart - 3 em 1
Sempre admirei o Vanguart pelas letras profundas, toques de
poesia e lirismo nas suas músicas, tudo isso combinado a um folk rock de
primeira. Essa é a definição geral pra uma banda que é divida em 3 fases, ao longo
dos seus 3 álbuns de estúdio. Podemos definir um como a sequência do outro,
cada um num estado emocional diferente e com uma musicalidade característica,
dando a impressão de que nos é contato uma ‘evolução’ da banda.
Ian Tambara
Vanguart (2007)
Nota: 7,5
O primeiro álbum traz consigo o folk rock em produções de
estúdio independentes. Gravado na terra natal dos músicos, Cuiabá, o álbum
possui um caráter mais melancólico, misturando o folk com o country (o exemplo
mais claro é a música “Hey Yo Silver”) em músicas que aliam a melodia e a letra
para tornar deste, o ‘mais fossa’ dos três discos. Em uma análise geral, é
ótimo para se ouvir quando se está desiludido e desacreditado com tudo e todos,
como em “Para Abrir Os Olhos”, ou na mais conhecida da banda, “Semáforo”,
restando apenas a solução em sair pra encher a cara e voltar só no outro dia,
como em "Cachaça". Além disso, o álbum traz uma mistura de músicas em
português, espanhol e inglês.
Boa Parte De Mim Vai Embora (2011)
Nota: 8,5
Depois de concorrem a prêmios no VMB e Prêmio Multishow, os
cuiabanos chegam com tudo em um grande disco. Junto com eles, vem a figura que
diferencia o som da banda: Fernanda Kostchak aparece com o seu violino em
praticamente todas as músicas do novo álbum. Mantem-se o folk, apesar de os
membros da banda não gostarem de ‘rotular’ o seu estilo.
“Acho que esse disco novo traz a gente mais velho, sabe,
mais maduros [...]” disse Hélio em entrevista à Rolling Stone Brasil. Assim
como o amadurecimento, o segundo disco traz uma “ressaca amorosa”, como se as
letras sugerissem a superação dos obstáculos e desilusões citadas no primeiro
álbum e mostrassem (mesmo que ainda de forma melancólica) uma certa esperança,
em músicas como: “Mi Vida Eres Tu”, “Se Tiver Que Ser Na Bala, Vai.” ou “...Das
Lágrimas”. Um álbum com letras e melodia muito bem trabalhadas e produzidas que
lhes renderam o prêmio de melhor banda do VMB de 2012.
Muito Mais Que O Amor (2013)
Nota: 6,5
E aí vem o terceiro álbum. Já mais “calmo” se comparando aos
outros, é um disco diferente. Agora a melancolia é deixada de lado, e o triste
som do violino perde espaço para os alegres e aconchegantes (às vezes até
irritantes) clarinete e bandolim. Com letras e melodia mais animadas, “Muito
Mais Que O Amor” traz a paixão, o amor e a felicidade atrelados e faz com que o
álbum torne-se muito mais comercial. Não é a toa que em 2013 “Meu Sol” fez parte
da trilha sonora da novela “Além do Horizonte.” Em resumo, não trata-se de um
álbum ruim, ao contrário disso, é apenas a prova de que a banda amadureceu e
provou que tem capacidade para construir trabalhos diferentes e, mesmo assim,
manter o bom nível.
30 maio, 2014
Los Hermanos - Bloco do Eu Sozinho (2001)
Nota: 5,1
Matheus Donay
Matheus Donay
Resolvi escrever sobre esse disco a pedido, nunca o tinha ouvido. Depois de uma semana escutando e processando, chego a algumas conclusões. Conclusões de quem teve os primeiros contatos e tinha algum conhecimento prévio, superficial.
Confesso que na primeira vez que ouvi já não aguentava mais ali pela 4ª música. Mas ok, isso é normal. A voz tão leve de Marcelo Camelo se mistura com os instrumentais simples, de guitarras discretas e por hora monótonas. Essa combinação lhe faz perguntar se essa é a mesma banda de Anna Júlia, sucesso do primeiro disco. Mudança de sonoridade essa que resultou na saída do baixista na época.
Fazendo uma analogia com o nome do trabalho, Bloco do Eu Sozinho sintetiza um carnaval na solidão. Triste, frio, melancólico. As letras ficam numa atmosfera de romantismo e sofrimento. Afinal, quem é mais sentimental que este álbum?
O que é fato, é que se trata de um disco importante. Um rock com jeitinho brasileiro, misturando guitarras e bossa-nova. Los Hermanos mudaram o modo de fazer rock no Brasil, influenciaram muitas bandas, que ouso dizer, algumas fizeram melhor que a própria referência. Se procurar pelas influências das novas bandas de indie-rock-universitário-dia-ensolarado-brasileiro, a grande maioria citará Los Hermanos.
Bloco do Eu Sozinho não é um álbum para se dançar, curtir e ficar em êxtase mas se você gosta de algo leve e orgânico, pode ser uma boa pedida. Destaque para a faixa Cher Antoine, cantada em francês, e Deixa Estar, que fogem um pouco ao padrão sólido do álbum.
Tenho a impressão de que este disco é overrated, assim como a própria banda. O que você pode levar como legado após o 'quase uma hora' de álbum é se identificar se estiver sofrendo de amor, ou então, um riff de certa música de alguma banda indie nacional.
Onde ouvir: https://www.youtube.com/watch?v=M45GziO2nxY
28 maio, 2014
Jake Bugg - Shangri La (2013)
Nota: 6,4
Eduardo Kapp
Assim como sua vida, esse álbum é cheio de contradições.
Liberto (ou envergonhado?), Jake Bugg finalmente resolveu escrever suas próprias músicas. Diferentemente do primeiro álbum, em que quase todas as músicas foram escritas pelo letrista/músico Iain Archer, agora vemos Bugg como principal (Archer ainda participa, de forma secundária) compositor das letras e melodias do álbum. Surpreendemente (ou não), isso diminuiu a qualidade das músicas, num geral.
Por outro lado, as melodias aqui tiveram um dedo do novo produtor Rick Rubin, que tenta deixar as coisas mais Rock'n Roll. No caso, todos os singles deste álbum seguem essa ideia. "Slumville Sunrise" e "What doesn't kill you" mostram um Jake Bugg inseguro de seu lugar, um tanto confuso sobre o que está cantando, e não me leve a mal, esses singles são pop o bastante, só não parecem se adequar ao contexto do artista.
É claro que não poderia se esperar tanto de um lançamento às pressas como foi esse. Ainda acho que o Jake só aceitou lançar o álbum tão rápido pra poder acabar logo com o "mal do segundo lançamento". É claro que o primeiro disco é melhor, não há duvidas. E deste, ainda se escutam ecos (muitos ecos), seja nas melodias folk-acústicas ou na insistência em cantar no formato Oasis.
Isso é algo interessante de se perceber. Quando Bugg canta ~sem compromissos~ com características planejadas (mesmo que inconscientemente) é que aparecem seus melhores momentos do álbum. "Me And You" é o ápice dessas terras. Nesse sentido, "Storm Passes Away", que te coloca naquele momento "refletindo sobre sua vida sem sentido enquanto olha pela janela do ônibus", também precisa ser lembrada! É nesses momentos que dá pra notar um certo amadurecimento e um caminho na direção de características mais originais do cantor.
Ainda nas contradições: depois de falar mal de programas tipo "X-Factor" e coisa que o valha, o maluco do Jake Bugg faz essa "A Song About Love", que certamente seria aplaudida pela platéia e o-faria ser escolhido pra entrar no "time" (é assim que funciona? Eu realmente não sei) de Cheryl Cole. Shame on you, Jake.
Enfim, não é horrível, não é nenhum "Turn Blue", é um disco que dá pra ouvir sem se decepcionar muito. Mesmo sendo mais um do tipo que imita o Dylan e um britpop qualquer, não é de se descartar.
Onde ouvir: http://www.youtube.com/watch?v=AN0DFWhtAwk
Bárbara Eugênia - É o que temos (2013)
Nota: 8,0
Matheus Donay
3 anos após lançar o seu primeiro
trabalho, Journal de BAD, Bárbara volta com o que tem (como diz o nome do
álbum) de melhor. O nome do disco é abrangente. Nele é abrigado o brega, a mistura, o experimento, intimismo, instrumentais trabalhados, drama e uma leve psicodelia.
A primeira faixa é um convite para
continuar ouvindo o álbum. Em Coração, Bárbara
já exibe logo de cara a harmonia que cerca o vocal com os instrumentos numa
melodia leve e cadenciada. Um dos destaques do álbum é a regravação de uma
música da cantora brega-romântica Diana, de 1976. Por Que Brigamos (I’m... I Said) cantado
por ela ficou fantástico. Há quem lembre dos gritos da Elis Regina ouvindo
esta música.
A carreira solo dá liberdade para
parcerias com outros músicos. Neste disco, você vai encontrar em Roupa Suja uma dança entre Bárbara e
Pélico. Um clássico bolero até chegar no animado refrão. Há também um dedo do
Mustache e Os Apaches em I Wonder, um
simples e belo folk cantado em inglês. Entre outras participações,
destaque para o Astronauta Pinguim, uma referência e tanto na lida com os
sintetizadores tão bem explorados no disco.
Esmiuçando música por música, se
encantará com a melancolia proferida na voz de Bárbara. Uma das músicas mais
interessantes é Ugabuga Feelings, onde você se depara com uma animada batida afro. Outra
regravação que é um dos ícones do álbum é Sozinha
(Me siento solo), do argentino Adanowsky. Recheado de referências
internacionais, o disco trás ainda as canções em inglês Out To The Sun, You Wish You
Get iT e a psicodélica Jusqu’à La
Mort em francês, que faz lembrar de Françoise Hardy, cantora de Le Premier Banhour du Jour, famosa por ter sido regravada pelos Mutantes.
Sou suspeito para falar, pois
para mim é dona de uma das mais lindas vozes do Brasil. Sou suspeito, pois
tenho uma queda por vocais femininos. “É o que temos” trás consigo as velhas
características da Bárbara um tanto mais maduras. Onde o brega e o chique se
misturam. Onde o clássico e o experimental estão em harmonia. Uma obra é o que
temos.
Onde ouvir: https://soundcloud.com/barbara-eugenia/sets/o-que-temos
Onde ouvir: https://soundcloud.com/barbara-eugenia/sets/o-que-temos
24 maio, 2014
The Black Keys - Turn Blue (2014)
Nota: 5,8
Eduardo Kapp
Pra uma banda que sempre apostou nos mesmos elementos e fez seu nome em cima disso, algo deu errado nesse álbum que foi lançado na semana passada.
Sendo um duo, sempre foram aquele som ~vintage, emulando um pouco dos """clássicos""" (blues rock, garage rock) e colocando muito soul nas músicas. Isso deu certo principalmente nos primeiros álbuns ("Thickfreakness" e "Rubber Factory"), o que os trouxe pra um público muito maior de 2008~2009 pra cá. Provavelmente porcausa disso que surgiram os famosíssimos "Brothers" e "El Camino", que não são ruins, mas com toda a certeza mudaram pra se adaptar ao público maior.
O mesmo vale para o novo álbum, "Turn Blue", que assim como o "El Camino", teve uma parceria com Danger Mouse (aquele multi-instrumentalista e produtor bizarro que faz parcerias com todo mundo). O álbum foi gravado durante a tour do álbum anterior, e em dois estúdios diferentes. A banda ia pro estúdio sem ter escrito músicas, e passava o dia todo lá até "alguma coisa sair". Essa é exatamente a vibe desse disco: um monte de coisas jogadas no liquidificador.
Mais efeitos, mais instrumentos, mais vocais, mais layers, mostram que de alguma forma eles tentaram inovar sua sonoridade, o que é de se apreciar. Tem muita aproximação com psicodelia, um feeling de tristeza geral, menos apostas em singles e mais um investimento no álbum como um todo.
O problema é que eles simplesmente não souberam lidar com as novas possiblidades criadas por esses elementos. A maioria das músicas se perde em meio ao seus próprios sons, falta alguma energia. Tem muitos sons que não adicionam nada às músicas, os synths de fundo, os riffs que imitam o vocal.
Não é de todo ruim, mas não é nem um pouco interessante. "Year In Review" é tipo um sample do álbum inteiro: fica na mesma linha de baixo o tempo todo, tem aqueles montes de instrumentos de fundo, que não melhoram em nada a música e parece levar uma eternidade pra acabar.
A melhor música é justamente o único momento em que a banda conseguiu equilibrar os instrumentos e não drenar toda a energia com um monte de sons diferentes: "Weight of Love".
Eu realmente espero que eles levem esse álbum como, sei lá, uma ~experiência e sigam adiante nas novas áreas que eles entraram. E, claro, que parem de imitar os White Stripes. Até lá, pode usar o "Turn Blue" pra vegetar, porque não tem nada de mais nesse disco.
Onde ouvir: http://www.youtube.com/watch?v=ROiLUkgZDv4
Nota: 5,8
Eduardo Kapp
Pra uma banda que sempre apostou nos mesmos elementos e fez seu nome em cima disso, algo deu errado nesse álbum que foi lançado na semana passada.
Sendo um duo, sempre foram aquele som ~vintage, emulando um pouco dos """clássicos""" (blues rock, garage rock) e colocando muito soul nas músicas. Isso deu certo principalmente nos primeiros álbuns ("Thickfreakness" e "Rubber Factory"), o que os trouxe pra um público muito maior de 2008~2009 pra cá. Provavelmente porcausa disso que surgiram os famosíssimos "Brothers" e "El Camino", que não são ruins, mas com toda a certeza mudaram pra se adaptar ao público maior.
O mesmo vale para o novo álbum, "Turn Blue", que assim como o "El Camino", teve uma parceria com Danger Mouse (aquele multi-instrumentalista e produtor bizarro que faz parcerias com todo mundo). O álbum foi gravado durante a tour do álbum anterior, e em dois estúdios diferentes. A banda ia pro estúdio sem ter escrito músicas, e passava o dia todo lá até "alguma coisa sair". Essa é exatamente a vibe desse disco: um monte de coisas jogadas no liquidificador.
Mais efeitos, mais instrumentos, mais vocais, mais layers, mostram que de alguma forma eles tentaram inovar sua sonoridade, o que é de se apreciar. Tem muita aproximação com psicodelia, um feeling de tristeza geral, menos apostas em singles e mais um investimento no álbum como um todo.
O problema é que eles simplesmente não souberam lidar com as novas possiblidades criadas por esses elementos. A maioria das músicas se perde em meio ao seus próprios sons, falta alguma energia. Tem muitos sons que não adicionam nada às músicas, os synths de fundo, os riffs que imitam o vocal.
Não é de todo ruim, mas não é nem um pouco interessante. "Year In Review" é tipo um sample do álbum inteiro: fica na mesma linha de baixo o tempo todo, tem aqueles montes de instrumentos de fundo, que não melhoram em nada a música e parece levar uma eternidade pra acabar.
A melhor música é justamente o único momento em que a banda conseguiu equilibrar os instrumentos e não drenar toda a energia com um monte de sons diferentes: "Weight of Love".
Eu realmente espero que eles levem esse álbum como, sei lá, uma ~experiência e sigam adiante nas novas áreas que eles entraram. E, claro, que parem de imitar os White Stripes. Até lá, pode usar o "Turn Blue" pra vegetar, porque não tem nada de mais nesse disco.
Onde ouvir: http://www.youtube.com/watch?v=ROiLUkgZDv4
23 maio, 2014
Fresno - Eu Sou a Maré Viva (2014)
Nota: 6,2
Matheus Donay
“Você pode dizer que já ficou para trás / Pode até esquecer,
dizer que não importa mais / Mas teu passado se lembra / O teu
passado não esquece.”
A primeira estrofe da primeira música do EP sintetiza minha relação com
a Fresno atualmente. Não costumo dizer que tenho banda favorita, porque isso
muda com o tempo. Costumo dizer que tem a banda que eu mais escuto. E Fresno
foi, por pelo menos 3 anos a banda que eu mais ouvi. É difícil falar do novo
EP, e mais do que isso, inevitável não comparar com discos anteriores. Sempre
gostei da Fresno por causa do intimismo e identificação com as composições. Continuo
a gostar da banda, mas acabei dividindo o espaço dela com outras músicas de
outros artistas.
Traçando um paralelo entre o “Eu Sou a Maré Viva” e outros trabalhos,
começamos falando das letras. A banda
que sempre foi rotulada de emo pela carga emocional das músicas e pelos
desastres e desilusões amorosas deu lugar à frases de efeito, ora motivacionais
e inspiradoras. Suponho que Lucas Silveira, o compositor, agora namorando, deve
ter deixado o seu eu-lírico um pouco mais sossegado com as crises de
relacionamento.
A essência do EP gira em torno de se firmar em um mundo que se apresenta
muitas vezes como cruel. “O meu pensamento é à prova de balas / à prova de fogo
/ E isso ninguém vai tirar de mim” e “Quem é que
vai ouvir a minha oração? / E quantos vão morrer até o final dessa canção?
/ E quem vai prosseguir com a minha procissão / Sem nunca desistir ou
sucumbir a toda essa pressão?”. Exemplo de trechos que marcam o grande drama da
vida, tão explorado no disco.
Para os saudosistas, a canção ‘Eu Sou a Maré Viva’ tem
um pouco da cara da Fresno de alguns anos atrás. Para mim, é a mais bonita do disco que está
recheado de frases fortes. A parceria com Emicida e Lenine, ‘Manifesto’, ainda
que cause estranhamento quanto ao som típico da Fresno, me surpreendeu
positivamente. “Nem ser menos e nem ser
mais / Ser parte da natureza, certo? / Ao
caminhar na contramão disso / a gente caminha Pra
nossa própria destruição.”
E assim se fez o EP. Com sonoridades não tão comerciais
como antigamente, a banda segue independente. Mesmo que tenha se afastado das
sonoridades clássicas que marcaram época na Fresno, as novas músicas seguem
sendo entoadas pelo público fiel da banda. Ouça o disco. Se não gostar, tente
sair ao menos inspirado com os manifestos e legados espalhados nele ou com o projeto gráfico, que diga-se de passagem, ficou ótimo.
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